CUPOROLO
(homenagem a Camilo Pessanha)
Nasces na imensidão
No Cuio terminas
Águas que estão
No meu coração
Quantas vezes arrastaste as minas.
Aquelas que matam
Os corpos das crianças
E por lá passam
Todos os que se despedaçam,
Ainda haverá esperanças.
Dás vida, sem dúvida
Agora também a tiras
Ainda a vejo túrgida
De grandeza e muito húmida
A vida, essa não a viras.
Tantas vezes te atravessei
Meu rio muito querido
Quase nunca te olhei,
Agora, quando te verei?
Se calhar no infinito.
Castanho corrias
E com a “Calema”
Te metias
Por favor, não te rias
Sempre foste um emblema.
Estoril, 30 de Junho de 2003
Francisco da Renda
DAIMÔN
O contrário do bem existe ao mesmo tempo
Que este, sendo diferente só o campo
Onde estão. Daimôn o caluniante
Tem muitos nomes (Lúcifer o brilhante
Ou Santanas o mau) e muitas formas:
Mulheres, sapos, bodes ou serpentes,
Todos horríveis, com cornos e caudas
Lembrando Pã que não era muito diferente.
A forma demoníaca foi pintada,
Esculpida, desenhada e maltratada
Em oposição à natureza angélica,
Que perde tremendamente em popularidade
Diante da mais apelativa perversidade
E da mais fácil natureza feérica.
Estoril, 11 de Março de 2005
Francisco da Renda
DALILA
Vou chamar-te assim.
Eu era um catraio
E tu, a mulata mais linda
De toda a minha Angola.
Teus olhos rasgados
De pestanas enormes,
Sorriso cativante
Numa boca sem igual.
A tua pele escura
A fugir p’ro “cafuso”,
Fazia-me arrepiar.
Teu corpo, em figura geométrica,
Tinha 2 partes,
Uma sagrada e outra profana.
Um dia…
Perdido de paixão,
Pedi-te que me deixasses
Tocar-te.
A minha mulata disse-me:
Para quê?
Para te satisfazeres com o teu objecto?
E depois?
Tens coragem de perder
O que está por detrás dele?
Fiquei perplexo,
O que era importante
Tornou-se vulgar,
Algo estava para além de…
Seria possível?
Foi,
Tornou-se minha amiga.
Que bom ter-te conhecido,
Que bom ter-te desejado,
Que bom ter aprendido,
Dalila, minha amiga.
Estoril, 10 de Julho de 2003
Francisco da Renda
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2 comentários:
Escrever faz bem à alma...
Parabéns pelos poemas!
Cump.
António Castanheira
São belos estes poemas. Pena que tenham ficado calados desde há tanto tempo.
Beijinho.
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