quarta-feira, 21 de fevereiro de 2007

Volume I

AMBIGUIDADE

Existe mesmo e quase que se cheira
Invade-nos devagar e com meiguice,
Não pretende querer ser matreira
E actua sem nenhuma intrujice.

Não tem nada a haver com contradição
Nem mesmo com a Santa tolerância,
Transporta a sabedoria numa mão
E na outra, a maldade em abundância.

Arrasta um perfume tão vazio
Mantém o lume de um pavio
E espalha o nada no tudo.

Não gosto dela respeitosamente
Enfrento-a escandalosamente,
Mas a sua força deixa-me mudo.

Estoril, 5 de Novembro de 2004

Francisco da Renda


AMBRÓSIO

Foi o nome que dei a um incógnito
E acreditem, foi mesmo de propósito,
Porque não imagino quem é o dito:
Podes ser tu ou eu, com o mesmo fito.

Respeitamos a diferença,
A integridade e o mau-estar
De olharmos para dentro (a ver o mar)
E constatarmos a indeferença.

Ambrósio, se és o meu espelho,
Quero voltar a ser fedelho
E acreditar no impossível!

Não aquele que é atingível,
Mas sim, no que é transgredível
E para sempre invisível.

Estoril, 4 de Julho de 2004

Francisco da Renda


AMIGA
(dedicado à Cecil)

“...De Angola, apenas
Tenho uma grande amiga...”
Que palavras serenas!
Não te vêm da barriga,
Porque essa só sofre.
Vêm-te da Alma enorme
E do Coração que não é torpe,
E ambos estão conforme.

Conforme o que estás a passar,
Que só tu, só tu o sabes.
Por tudo o que quiseste amar
Lembra-te dos velhos mares,

Revoltosos e traiçoeiros
Bravos e enganadeiros,
Mas sempre a atravessar o muro
Aquele, que tu o farás no futuro.

Sou Sanzaleiro de alma e coração,
Vou ficar teu amigo, com muita emoção
E sempre a acreditar, que a evolução
Irá contribuir para a tua devolução.

Estoril,13 de Maio de 2004

Francisco da Renda

terça-feira, 13 de fevereiro de 2007

Volume I

AGRURA

Que palavra tão estranha
Que revela coisas feias.
Se tudo é patranha
Porque ficamos a meias?

Tudo o que nos rodeia
Tem a sua razão de ser,
Ficamos numa teia
Sem a querermos ter.

Só temos cinco sentidos
Todos muito atentos,
Não nos fazemos entendidos
Será que somos lentos?

Muito mais queremos
Do que aquilo que temos,
Será que não podemos
FICAR ASSIM!

Estoril, 15 de Julho de 2003

Francisco da Renda


AINDA O MAR

Fez-me companhia desde que nasci
Exacerbou tudo o que senti
Fez-me crescer.

Deu-me a noção de ser minúsculo
Ensinou-me a contemplar o crepúsculo
Fez-me viver.

Mostrou-me o contraditório
Foi o meu grande oratório
No mar vou a enterrar.

Estoril, 27 de Março de 2005

Francisco da Renda


ALEGRIA

Está presente em tudo e em todo o Ser,
Mas (quase) nunca damos pela sua presença.
Manifestamos tantas emoções, com uma sentença:
Não sejas infeliz, pois o Paraíso hás-de o ver!

Todos os dias eu sinto a Alegria,
Está-me no corpo, no pensamento e na minha mão,
Só preciso é de usar, com muita Mestria
O que os mais sábios me puseram no coração.

Se fosse fácil calcular esta poção
Não haveria dôr, sofrimento ou degradação
Pura e simplesmente.

O que nos faz entrar por uma porta
Inacessível, encerrada e torta?
É a Alegria que nos é, inerente.

Estoril, 29 de Maio de 2004

Francisco da Renda

sábado, 3 de fevereiro de 2007

Volume I

ACÇÕES, ACÇÕES

Quando não estou bem
Penso em agir
P’ra tentar sair
Daquilo, que se não tem.

Esqueço o meu coração
E procuro o Cérebro amigo,
Então, os que estão comigo
Onde eu for, comigo vão.

Onde não há educação, há pobreza
Que é feito da esperteza
Que nos deram ao nascer?

Vamos pô-los a aprender
Que passar fome, só por querer,
Nunca para enriquecer.

Estoril, 5 de Junho de 2003
Francisco da Renda


ADAPTAÇÃO

Um leão no polo norte
Um pinguim em S. Tomé!
Eu, armado em forte
Nunca senti tal fé.

Os mais puros, virgens e inocentes
Nunca se adaptam ao ambiente.
Por isso, são reais e valentes
Sem se enganarem. Que surpreendente?

Adaptação, não é uma palavra vã
Apesar de ser sã.
Nem todos a sentem

E muito menos a entendem,
A não ser os que compreendem
Que as palavras, vão e vêm.

Estoril,30 de Março de 2004
Francisco da Renda


AEROPORTI di ROMA

Sala de fumo. Observo rostos cansados,
A maioria tristes e os restantes assim-assim,
Asiáticos (muitos), Africanos e até bastardos
Parecidos comigo. E esta espera não tem fim.

Olhos rasgados, bocas finas, narizes aduncos
Refectindo nuns, uma alma inquieta,
Noutros, uma serenidade quase asceta
E até vislumbro alguns frúnculos.

Os cigarros, colados à boca ou presos nos dedos,
Libertam um fumo denso que não esconde os medos
Que eu vejo naquelas expressões.

Acendo mais um cigarro e já não vejo ninguém,
Terei sonhado? O fumo ainda se mantém
A fazer lembrar-me estas divagações.

Roma, 3 de Janeiro de 2005
Francisco da Renda