quarta-feira, 18 de julho de 2007

Volume I

CHORAR PORQUÊ?
(a pensar num Sr chamado J.W.Bush)

Chorar, manifestação simples, pura
E verdadeira, por vezes incontrolável.
Por mais que a Alma seja dura
As lágrimas correm. Nada agradável.

Madrid, New York, Luanda, Palestina,
Timor, Amazónia e a enorme China,
Tanto sofrimento, tanta incompreensão,
Tanta maneira de olvidar o coração.

As causas vão ser esquecidas, mais uma vez
E vamos continuar a chorar (tanta pequenez).
Sofro, pelos que morrem sem saber!

Mas fico alerta e muito irritado
Com aquele, que embora disfarçado
Passa por ser, o heroi do sofrer.

Estoril, 14 de Março de 2004

Francisco da Renda


“CIPAIOS”

Os meus grandes amigos “Cipaios”
Faziam parte duma estranha estrutura.
Muitos, eram e tinham fama de “aios”
Nas hostes de quem muito murmura.

Todos eram leais e verdadeiros
Às causas que sempre abraçavam.
Dependiam de estúpidos e reles useiros
E de alguns bons companheiros.

Do muito que aprendi com todos
Algo vai ficar, como os mostos
Que demoram a aprimorar,

O verdadeiro gosto e sabedoria
De quem está escondido na mestria,
Dos que sabem e querem lembrar.

Estoril, 26 de Dezembro de 2003

Francisco da Renda


CIRURGIA PLÁSTICA

Todos nascemos, uns assim
Outros assado. De várias cores
De vários tamanhos, enfim
Daríamos uns belos lavores.

Nem sempre gostamos
De nos vêr a nós próprios,
Então pensamos
E não ficamos sóbrios.

Pedimos ajuda, p’ras modificações
Queremos isto e aquilo,
Sem rugas, nariz tranquilo
Tez alta, barriga sem montões.

Pequenos ou grandes seios
Pernas esguias e esbeltas
Ancas como os atletas
Olhos sem estarem cheios.

Pele lisa e sem estrias
De Vénus, os joelhos
As coxas bem vazias
E isto tudo sem pêlos.

Nádegas mais acima
Ou mais abaixo, robustas.
Sempre no clima
Queremos ser vestutas.

E a alma, essa desventurada?
Não ficará como o demónio
Que a põe dourada
E pede ajuda a St. António?

Pobre do Cirurgião Plástico
Que além de ser prático
Sofre muitos tormentos
Nestes pequenos momentos.


Estoril, 26 de Agosto de 2003

Francisco da Renda

terça-feira, 10 de julho de 2007

CATAVENTO

Ao sentir o vento
Lá vai o Catavento,
E que bonitos eles são.
São Galos, são Rodas,
São Igrejas, são Casas,
São Devoção, são Crença,
São Superstição, são Icones,
São tudo o que
“Pensamos, Desejamos e Imaginamos”,
Sem “Presunção”, direi Eu,
Pois esta pertence aos Humanos.
Quem fica indiferente aos Cataventos?
“As Melgas” não serão,
“Os Sanzaleiros” também não,
Especialmente os que inventam
Palavras (como “Internécticas”),
Sonhos (como “Havemos de voltar”),
Poemas (como “Não sou de cá...”,etc).
Ainda bem que existem
Ficamos bem,
Para a Prosa trazer sentido
Mesmo sem nos conhecermos.

Estoril, 11 de Maio de 2003

Francisco da Renda


“CATUITO”

Quanto tempo passou a entender-te?
Corpo muito pequeno e deliciosamente ágil
Com tuas penas curtas, castanhas e polidas.
Da minha varanda, só queria observar-te,
Saltavas de ramo em ramo, muito frágil
Com as tuas asas serenamente mantidas.

Quantas vezes me puz no teu lugar?
Imaginei que queria ser pássaro
E que podia fazer como tu, voar,
Sem ter necessidade de ser ávaro.

Segui o teu percurso, imaginando-me
Que, seria o melhor dos seres falantes.
Continuo a saltar, revezando-me
Entre ti e outros amantes.

Estoril.16 de Dezembro de 2003

Francisco da Renda


CERTEZA

Sei do que sou capaz, pois então
Sei do que não vou ser ou fazer.
Não é isto, ter a certeza do querer,
Do existir, do raciocinar, sem emoção?

Pela certa, nasci num dia qualquer
Não me lembro do dito, foi há muito tempo.
Nesse mesmo dia, nasceu um malmequer
De certeza, em algum momento.

E o Sol nasceu, brilhou e encantou
Todos os Seres Vivos. E alguém amou
Tanto tanto que me iluminou.

O amanhã, também vai ter de certeza
Qualquer coisa de novo e com enorme beleza.
Sim, foi ele (o amanhã) que me procurou.

Estoril, 22 de Janeiro de 2004

Francisco da Renda