sexta-feira, 4 de maio de 2007

Volume I

AS NUVENS

Umas são lindas,
Outras horrendas,
Há-as de todo o tamanho e feitio
E todas nos fazem sonhar
Em Angola e em Portugal.
Às vezes tenho mesmo vontade
De as agarrar, transformar,
Brincar e deitar-me nelas.
Não sei porquê, mas tenho a sensação
De que sonhar em cima delas
É melhor, seriam mais puros,
Mais doces, mais tranquilos.
Quando conseguir apanhar uma
E segurá-la,
Trago-a cá para baixo
E meto lá todos os meus amigos
Para sonharmos juntos!

Estoril, 19 de Abril de 2003

Francisco da Renda


AUSÊNCIA
(dedicado à Cecil)

Cecilia, por mais que queiras
Ou insistas, não estarás ausente.
A razão é simples: Tu és permanente,
Existes e tens coisas verdadeiras.

Sem te conhecermos, adoramos-te!
Principalmente a tua enorme energia,
Aquela que, por pura e simples sinergia
Consegues transmitir ao reflectir-te.

A ausência pode ser longa,
Nós sabemos. Mas aquilo que se prolonga
É a tua imagem, a tua felicidade,

A tua luta enorme e se calhar,
Sem regresso. Mas o teu batalhar
Não será ausente. Será uma verdade!

Estoril, 20 de Julho de 2004

Francisco da Renda


BACTÉRIA

Simples e linear, a todos alcança
Sem avisar e de repente, nunca se cansa.
Tudo (Seres Vivos ou não) atinge
E nem sequer finge.

És mais antiga que os Dinosáurios
E sempre resististe: mudanças de clima,
“Eras”, hecatombes ou naufrágios.
De que espécie és? Será nossa sina?

Nada nem ninguém se livra,
Negros, Brancos, Pobres, Ricos,
Inteligentes ou Analfabetos,
Até os pobres “Abetos”
E os meus amigos “Micos”,
Vai tudo por arriba.

Só te identificam ao microscópio
Porque infinitamente te pareçes,
Mas, tenazmente passas pelo antibiótico
E gozas, pois ainda te engrandeçes.

Adorava ser como tu, às vezes,
Noutras, nem penses!
Tenho-te por sobrevivente
Muito respeitosamente.
Nos teus revezes
Eu sei, que tu não sentes.

Causas muito sofrimento
Para poderes sobreviver,
Contraste maior no Firmamento
Só conheço um, o do meu sofrer.

Sentir que tenho capacidade
Para ajudar quem pede,
E não sou suficiente!
Bolas, és pior que a ruindade
Que tu demonstras, na tua sede
De seres muito paciente.

Aquilo que és (Bactéria),
É uma questão de Genética,
Rimas bem com Miséria,
É só uma questão de Fonética.

Estoril, 3 de Dezembro de 2003

Francisco da Renda

quarta-feira, 2 de maio de 2007

Volume I

APRENDIZAGEM


Não peço a um bom lavrador
Que me ensine química quântica,
Não exijo a um grande professor
Que me diga como se faz o pão,
Isto só para não haver confusão.

O conhecimento adquirido é útil
Principalmente quando fica
Registado, podendo ter aproveitamento
Na situação mais fútil
Ou num individuo sem entendimento.

Porque as lições de vida, essas
São inerentes a qualquer pessoa
Desde que não faça parte daquelas
Aves raras que andam aqui à toa.

Numa opinião muito própria
Fazemos parte do mesmo bolo,
Dividamo-lo com mente sóbria
Evitando o saber tolo.

Somos uma pequeníssima partícula
Que precisa de ligação
E uma sólida fundação.

Estoril, 22 de Março de 2005

Francisco da Renda


ARREPIADO

O meu coração acelera, os meus poros
Dilatam-se, a minha pele fica enrrugada,
As narinas adejam e a Mente fica parada.
É assim que eu fico, sempre que a modos

Confronto algumas realidades, tão diferentes,
Tão iguais, à luz das diversas frentes.
Aquela, luta por ser igual (e resiste),
Aqueloutra, bate-se por o não ser (e insiste).

A beleza, a fealdade e os contrários
Fazem-me lembrar, o que viu um “Sradivarius”:
Antigo, complexo e uma “obra-prima”.

Mas perante uma guitarra Portuguesa
Singela e simples, ficaríamos de certeza
Arrepiados, principalmente quando ela trina.

Estoril, 10 de Julho de 2004

Francisco da Renda


AS CORES

A maravilha começa na retina,
Ou não? Será na luz que a penetra?
Cá para mim, é mais do que isso.
Se ousarmos uma percepção mais fina
Constatamos os cones, bastonetes e etc;
São tantos que parecem um Ouriço.

Mas a luz caramba, é branca,
Os ditos (cones e bastonetes) estão ligados
Ao Cérebro e são quase cegos, isto é,
Só lêm três cores. Será que a luz não é franca?
É. Mas não sei porque artes e mistérios entrelaçados
Se mostram as cores, como uma fé.

Ah! Falta ainda o mais importante
Cada um vê aquilo que pode e quer!
Cada vez mais perplexo!
Para os que querem, é bastante.
E para os que podem? Vão todos ver
O que há de complexo.

Se fosse complicada esta questão,
Estaríamos a amputar
As muitas cores em equação
Que tanto nos fazem sonhar.

Quem não vê, sente as cores
Como se fossem sentinelas
Dum Mundo sem janelas
Mas onde estão tantos amores.

Quem vê, não quer perceber
A riqueza que as cores têm,
Pois não é importante ver
Aquilo que não convém.

Simples e minuscula é esta estrutura
Que consegue extraordinárias combinações
Com lindas e saborosas lições
Para a nossa pretensa envergadura.

Resta o iluminado, o artista
E o que, delirante,
Acredita que as cores fazem imaginar,
Tal qual o fadista
Que nem por um instante
Para de cantar.

Mas elas (as cores), são tão belas,
Tão alegres, que estão nas telas
Imponentes e vigorosas, sem querelas.

Estoril, 18 de Março de 2004

Francisco da Renda