Neste dia em que nasceu o Menino Jesus
Convencionou-se ser um dia especial.
Minha alma inquieta colocou um capuz
Olvidando a miséria e o lamaçal
Que todos os dias cheiro e sinto
Penetrando e rasgando os meus poros.
Não sei mesmo porque tanto minto
Quando sou forçado a carregar os toros.
Todos os anos prometo, quando abro as prendas
Que Natal é todos os dias, quando faço oferendas.
Consigo até lacrimejar!
Não sei, se pela humana hipocrisia
Ou se pela divina alegria.
Oh! Quem me dera poder mudar!
Estoril, 21 de Dezembro de 2004
Francisco da Renda
À BEIRA
Estou perto
Estou à beira,
Do que está certo?
Lá vou eu pela eira,
Sempre a subir
Sempre com esperança
Continuo a ouvir
A minha lembrança.
Também há a Beira
No mapa de Portugal,
Por mais que eu queira
Apesar de certeira,
Não vejo onde está o mal.
À beira, isto é, no limite
Sempre a bordejar,
Por mais que se imite
A linda estalactite,
Estou sempre a beijar.
O quê? De que maneira?
Tudo ou nada,
Mas sempre à beira
Mesmo com uma peneira
Eu, só vejo a manada.
No limite, nasci
Se calhar, já morri.
Adoro ouvir o “Mi”
Apesar do que li.
À beira vou estar
Embora com pesar.
Estoril, 30 de Julho de 2003
Francisco da Renda
À ESPERA
Estás sempre à espera! Que faça chuva,
Que neve, que isto ou aquilo desapareça.
Mas não acontece nada. Se comes a uva
É claro que esperas que a fome esmoreça,
Se não dizes a alguém que a amas
Nunca irá saber o teu sentimento
E se trancares a vontade, não levantas
Jamais a âncora do teu sofrimento.
Mas tu gostas de esperar, senão mudarias,
Não mudas porque gostas de observar
Lenta e serenamente e não entregarias
Ao pássaro que contemplas ao longe,
A tua preguiça de conjugar o verbo amar.
Um conselho: enquanto esperas, come funge.
Estoril, 31 de Março de 2005
Francisco da Renda
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